24 de jul. de 2009

Partir ou não partir, eis a questão!


Inicio este blog, obviamente, titubeante. Será que conseguirei atualizá-lo? Será que conseguirei expor meus pensamentos sem medo da crítica dos amigos e leitores? Conseguirei passar meus pensamentos de maneira clara para os incautos que vierem a seguir estes devaneios virtuais?

Enfim, toda uma série de dúvidas que acometem quem, como eu, tem certeza de que quando temos certeza de que sabemos o que está se passando conosco, é porque estamos mesmo nos iludindo.

Logo ao fim de uma viagem de três meses por oito países do sul da África, chego completamente confuso sobre o que descobri, pensei ou achei ter entendido durante este período. Normal para um titubeante assumido como este que vos escreve.

Tenho dúvida sobre tudo, e como São Tomé, o santo, não a banana, acredito que só vendo para crer, ao contrário da imensa massa dos membros desta estranha espécie dos humanos que prefere crer para ver.

Vemos o que nos interessa, e sob a distorcida ótica dos nossos pré-julgamentos, decidimos tudo sobre nossas vidas. E quase sempre, no final, descobrimos que a desperdiçamos.

Como dizia um amigo meu que se perdeu nas brumas da memória, "Não é pelo fato de que acredito noutra vida depois desta que vou desperdiçar esta".

Os tempos são frenéticos. As notícias de acontecimentos, quase sempre catastróficos, em países distantes chegam a nós em velocidade internética, e nos assustam como se acontecesse na rua ao lado. Estamos reféns da sociedade da informação. Pensamos que sabemos tudo sobre tudo, mas apenas sabemos o que os meios de informação querem que saibamos.

E ainda por cima somos responsáveis pela escolha das fontes que nos "informam". Se escolhemos uma, vamos ver os acontecimentos de uma forma. Se escolhemos outra, nossas interpretações dos eventos poderão ser completamente diferentes, e assim vamos alternando nossas perspectivas para o futuro e a interpretação do que já vivemos. Não é mole não companheiro!

Assim, os titubeantes de carteirinha, como o autor destas espontâneamente titubeantes linhas, vão tentando navegar no denso fog da "realidade", esta coisa incolor, inodora e quase sempre invisível que nos acomete desde que nascemos.

Mas a necessidade de falar me é companheira desde a mais tenra idade, quando comecei a querer me expressar, achando que tinha este direito adquirido, e desde então venho sido chamado de prolixo, falastrão e de chato. Como Caetano Veloso, tenho opinião sobre tudo. Um perigo neste cruel mundo onde não é difícil ser linchado, fisicamente ou intelectualmente por achar qualquer coisa de qualquer coisa.

Apesar disso, tenho percebido uma relativamente encorajadora margem de sucesso nas minhas profecias, por mais absurdas que algumas delas tenham parecido quando proferidos.

Muitas vezes as roupas que achei que deveria usar numa determinada época da minha vida para não parecer com um mero seguidor de tendências, muitas vezes anos mais tarde vieram a se tornar populares, para minha grande surpresa, e satisfação.

Ao abraçar as incômodas idéias do então iniciante movimento pacifista, quando morava em Londres na década de 60 lavando pratos em restaurantes, não imaginava como no futuro se tornariam tão populares.

Quando nos anos 70, morando na Califórnia, percebi os desperdícios da sociedade consumista, em que eu inconscientemente chafurdava, resolvi lutar por um ainda popularmente desconhecido movimento ecológico, mais tarde chamado de ambientalismo, e incorporado ao mainstream da sociedade, ainda que pouco posto em prática no dia a dia.

Quando voltei ao Brasil na década de 80, procurei a meia dúzia de malucos que, no Rio de Janeiro de então, pensava em criar um Partido Verde e uni-me a eles, para lançar uma opção política para aqueles que se preocupavam com o que mais tarde veio a se chamar de desenvolvimento sustentável. Claro que não previ que o PV viria anos mais tarde a se tornar mais um partido oportunista como tantos outros. Mas quando percebi esta tendência, desfiliei-me sem arrependimento dos anos dedicados à causa.

Nem tudo que fazemos dá resultados. Algumas ações dão resultados imediatos, outras a longo prazo e ainda algumas, como dizia o grande Manolo Caminos, filósofo ocasional das praias buzianas, algumas ações só trarão resultados numa eventual próxima encarnação, na qual podemos nem estar participando como humanos. Aliás, sempre achei que se voltasse numa outra vida, certamente seria um bicho não racional e consequentemente muito menos cético e infeliz. Há espaço para esperança!

Mais tarde os devaneios continuarão, já que o mais difícil, que era abrir e inaugurar este blog, já foi cometido.

Hasta la vista!


Nota: A foto de abertura deste post foi tirada pelo autor destas linhas em 1975 na Mauritânia, coração do deserto do Saara, enquanto, aos 29 anos de idade e imensa ingenuidade, buscava descobrir alguma coisa que ainda nem sabia o que era. Até hoje continuo buscando e ingênuo...

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